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A DESPEDIDA

Carnaval de 2010. Estamos todos reunidos no velho Bar do Bigode, esquina da Rua Dr. Emílio Winther, nos preparando para desfilar na Avenida do Povo.
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SENTA que lá vem história.
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Alguns dos carnavalescos estão nas mesas do bar. Outros vão até os carros pegar as fantasias do Bloco Vai Quem Quer que desfilaria naquele ano no mesmo dia das Escolas de Samba de Taubaté.
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Na minha mesa GUIDO MOREIRA degustava a cerveja e - fato raro- bebericou alguns goles de uísque enquanto vestia sua fantasia de marinheiro.
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Algum tempo depois alguém avisou que estavam nos chamando para formar a ala na Avenida.
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Pagamos a conta, guardamos as roupas nos veículos e fomos descendo em direção ao desfile.
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Alguém me falou mais tarde que na descida Guido Moreira disse que na segunda feira deveria procurar um médico pois não estava se sentindo bem.
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Foi a última vez que o vi com vida. Quando Guido se posicionava para o desfile teve um mal súbito e caiu em plena Avenida do Povo.
Uma viatura do Resgate o levou ao hospital naquele domingo.
Na terça feira ele foi desfilar em palcos celestiais.
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Sua companheira Davina (Dadá) após o desfile foi esperá-lo no ponto combinado, na área de dispersão das Escolas de Samba, sem saber do ocorrido.
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Só quando estranhou a ausência do companheiro e foi perguntar aos demais amigos do Bloco, ficou sabendo do ocorrido.
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Quando a notícia da morte de Guido se tornou conhecida, peguei uma foto dele com o quepe de marinheiro feita por Clóvis Yassuda na semana anterior da Banda de Ipanema no Rio e mandamos confeccionar camisetas com seu rosto estampado e sua frase favorita. "Guida Quer Chopa".
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(Dadá o chamava de Guida, assim mesmo no feminino)
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Na despedida no Cemitério do Convento, seu pandeiro com a Bandeira do Brasil estampada no couro, foi colocado junto ao seu corpo para ir cantar sambas no outro lado.
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Naquele momento de tristeza e despedida eu senti que com a morte de Guido terminava um ciclo do Bloco carnavalesco mais antigo da cidade.
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Os anos seguintes me provariam isso. A Velha Guarda do Vai-Quem-Quer se foi com Guido e João Guaru.
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Na foto dos meus Archivos Implacáveis está o casal em uma tarde das muitas festas que fotografei. Atrás do casal o trompetista Marcelo que também já nos deixou há alguns anos.
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Com a morte de Guido sua esposa Dadá voltou para a Bahia onde morreu há alguns anos.
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"Viver e não ter a vergonha de ser feliz"...ensina Gonzaguinha no meu samba preferido.






  • Fontes: JOSE DINIZ JUNIOR