| 415

Trem bão é ser véio...

FALANDO SÉRIO

Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelos brancos ou uma barriga mais lisa. Enquanto vou envelhecendo, vou me tornando mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo (para com os outros? Talvez!). Eu me tornei meu próprio amigo...
Na próxima semana completo mais uma volta no meu calendário, portanto, enriqueço mais meu currículo de minha existência.
Eu não me censuro por comer biscoito extra, por não arrumar minha escrivaninha, ou por comprar algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” na minha sala. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais. Agora com esta cruel pandemia então; está sendo terrível! Alguns mesmos, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.
Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogando no computador até bem depois da meia noite e dormir até o meio dia?
Eu dançarei com o som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 & 70 (Eita! Sociedade Italiana, TCC, Associação, CTI e nas varandas das casas da minha Taubaté...).
E se eu, ao mesmo tempo, desejo chorar por um amor perdido... Eu vou...
Vou andar na praia (sem prisão da pandemia) em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente (já foi mais atlético), e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no “jet set”.
Eles também vão envelhecer...
Eu sei que sou às vezes esquecido. Mas, há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar um coração quando se perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos (os que sobraram) grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto (nem tanto).
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errado.
Assim, para responder a sua pergunta (tenho certeza de que você já perguntou onde eu quero chegar): ... eu gosto de ser velho. O tempo me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estiver aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será.
Ah! Eu vou comer sobremesa todos os dias (a que me apetecer).

Joinville, 11 de março de 2020.

Henrique Chiste Neto








Mais Fotos

  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

Últimas Notícias