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Para onde vão os quadros?

Uma vez, em conversa com o Justino, ele me dizia de sua solidão e saudades, pois quando vendia um quadro este desaparecia de sua vida, indo para recantos inimagináveis e, muitas vezes, nunca mais poderia ser visto. Comentava que um livro escrito, uma música composta ou uma escultura fincada numa praça, ficavam por toda a vida ao alcance, podendo ser apreciadas e mostradas a quem quer que estivesse por perto, com aquela sensação de alegria por uma obra produzida com sucesso. E o mais contraditório, dizia, era que a maior alegria e glória era ver um quadro comprado por um estrangeiro, indo para um lugar bem longe, onde ninguém sequer ouvira falar em seu nome. Isso enriquecia o currículo e valorizava o artista.
Justino era de uma humildade e de uma sinceridade pouco vistas num artista de seu tamanho e gabarito. Aliás, isso parece ser um privilégio dos artistas de Redenção da Serra. Adão e Toninho Mendes são também artistas consagrados, com trabalhos por todos os cantos, continuando daquele jeito acaipirado do povo de Redenção.
Redenção que se orgulha de seus filhos.
Afirmo que o mesmo prestígio que São Luiz do Paraitinga tem por seus músicos, Redenção deveria ter por seus artistas plásticos. Um dia faremos um festival de artes naquela terrinha e ela terá o prestígio que merece.
A consagração de um artista se reconhece quando todas as pessoas interessadas reconhecem seu trabalho onde quer que os encontre. Um quadro de Justino é reconhecido por todos por suas características próprias, suas cores, seus personagens, e pelo fato de retratar as pessoas sempre de costas ou de lado, nunca encarando o espectador que admira a obra. Reflexo da timidez e do caráter reservado, mantido sempre, mesmo depois de ser admirado por tanta gente e ser considerado o Mestre. Mesmo depois de ter pintado uma Via Sacra numa igreja de Bragança Paulista e de ter feito tantos painéis embelezando os prédios públicos de Taubaté.
Toninho Mendes é um homem simples mesmo depois de fazer tantas homenagens ao Mestre Justino, prestando-lhe tributos e reconstruindo seus trabalhos. Mesmo depois de ter um museu itinerante com a história de Redenção, mostrada em todas as cidades do Vale do Paraíba. Mesmo depois de ter seus quadros em inúmeras coletâneas de primitivistas de nossa região.
O estilo de Adão Silvério é inconfundível. Em qualquer ponto onde existam quadros de primitivistas, seu estilo realçará e será reconhecido e admirado por quem conhece seu trabalho. Ele está em calendários das maiores empresas da região, para júbilo de seus admiradores e recompensa por quem investe nessas produções.
E como acontece com Justino, com Toninho Mendes e com todos os artistas que pintam quadros, nunca mais vê seu trabalho adquirido por um colecionador.
Mas, assim como um trabalho vendido para o exterior valoriza o currículo, ver um quadro seu numa parede de um cenário da TV Globo, por certo, acariciará o seu ego.
Por ser inconfundível, numa passagem de imagem da casa do Lineu, da Grande Família, se reconhece um quadro do Adão.
Ele pensava que nunca mais veria sua obra, mas está lá para ele e todo mundo admirar.
Há um quadro do Adão enfeitando o cenário da Grande Família da TV Globo.
O programa está sendo reprisado no canal Viva, onde isto poderá ser conferido.
( PAULO PEREIRA)







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  • Fontes: DR. PAULO PEREIRA

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