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O Tempo e o anti-tempo: a plenitude de nossa existência


“Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ecl 3,1).
Está é a passagem mais conhecida do Eclesiastes e que frequentemente serve de álibi a pessoas que não sabem encontrar tempo na vida.
O escriba Coélet nos apresenta aqui um grande programa de vida. Sua primeira observação é no sentido de que nossa vida é dialética, paradoxal. A vida é composta de ação, de horas antitéticas que, sem ser simultâneas, nos colocam debaixo do signo do paradoxo, da contradição.
Nós somos seres ambíguos, paradoxais, mas é nesta ambiguidade que muitas vezes nos faz sofrer, é precisamente nela que encontramos a riqueza, a plenitude da nossa existência.
O importante é saber escolher o tempo, decidir pelo tempo oportuno, decisivo, exato, e não viver o anti-tempo, o contratempo.
Podemos compreender o tempo como um programa total. Nós temos pouco tempo e passamos a metade do tempo morrendo.
Ao todo, nós só vivemos de maneira positiva a metade do tempo. Esta compreensão é falsa porque é unilateral. Existem duas maneiras de examinar um copo contendo água pela metade: a metade do copo está vazia ou a metade está cheia. Salvaguardar ás duas maneiras de explicar a existência. A metade da existência é morte, a outra metade é vida. A metade da existência é destruição, a outra é construção, é edificação.
Isto quer dizer que, apesar da brevidade e da fragilidade de nossa vida, nós temos muito tempo; podemos ,pois, realizar muitas obras, fazer muita coisa.
Nós temos muito tempo: a mais difícil e a mais necessária aos ouvidos do nosso século. Pois nos tornamos homens e mulheres sem tempo, possuídos pelo tempo, que apenas suportam o tempo ao invés de vive-lo em plenitude.
Esta é, sem dúvida, uma das maiores maldições de nossa época, nós somos homens e mulheres sem tempo, nós perdemos tempo, ou melhor, perdemos o tempo.
Precisamos reencontrar , resgatar este tempo que perdemos, que deixamos ser roubado. Se livrar da mentira que nos envolveu, aquela que nos leva a crer que não temos tempo para nada.
Pois , na verdade, nós temos muito tempo, temos tempo para fazer tudo, desde que saibamos captar e encher o tempo e não o transformarem tempo perdido, pensando , naturalmente, que o ganharemos, que o recuperaremos no futuro.
Pra isto é preciso ter tempo para ter tempo. Viver o tempo em plenitude é não viver em contratempo. Quantas vezes rasgamos quando é preciso costurar e costuramos quando é preciso rasgar. É preciso, pois, discernir, pilotar o presente.
Se não o fazemos deixamos de viver o verdadeiro tempo, o único sobre o qual podemos dispor. Muito frequentemente, o homem se refugia no passado chorando o tempo perdido ou deixa deixa devorar pelo futuro e pelas ilusões encantadoras mas sempre inconsistentes.E durante este tempo ele deixa vazia a hora presente que lhe foi dada, consignada para encher.
A sabedoria consiste, justamente , em não perder a hora, não desperdiça-la perdendo o tempo. A vida é plasmada dia por dia na convivência.
O homem não se realiza só com a perfeição técnica, só com o sucesso. Importa, para cada um de nós, alcançar aquela realização plena na qual existe tudo, tudo: o amor, a doação recíproca, o dar a vida pelo outro, a verdade. E se isto pudesse representar para cada um de nós não uma renúncia, mas uma escolha.
10.06.2022 Prof. Dr. José Pereira da Silva








  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA