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Crise educativa: repensar o papel educativo

Recentemente foi noticiada uma denúncia por instigação ao suicídio movida contra uma influencer (influenciador) que, lançou uma série de desafios extremos – o último consistia em cobrir o rosto com uma fita adesiva transparente, com risco de asfixia -, chegou após a trágica morte de duas crianças, uma de dez anos , outra de nove, vítimas de jogos análogos. Com o poderoso meio das redes sociais, condicionam cada vez mais a nossa maneira de pensar, sentir e viver. Felizmente, nem todos os influenciadores são assim. Muitos exercem a sua função de formas lícitas e positivas.
Os que utilizam sua influência de forma negativa aproveitam do vazio intelectual e espiritual alimentando-os. Celebrando diariamente ritos consumistas, que tem como fundo a renúncia a tomar a sério os grandes problemas que deveriam determinar o sentido da vida. O crescente influxo dos influenciadores corresponde – ao mesmo tempo como efeito e como causa – ao ocaso dos mestres, daqueles verdadeiros, que ensinavam a colocar estes problemas e a enfrentá-los com espírito crítico, propondo, não conselhos sobre gastronomia ou roupa, mas perguntas de fundo decisivas para as escolhas públicas e privadas.
E não se fala aqui apenas dos grandes intelectuais que em tempos orientavam a cultura da nossa sociedade. O processo que conduziu os adultos a demitirem-nos da sua tarefa de educadores, atingiu, antes de todos, pais e professores.
Quer nas famílias cada vez menos capacitadas para transmitir aos seus filhos um patrimônio convincente de valores quer na escola, cada vez mais focada na mera transmissão dos saberes, a capacidade dos mestres de propor aos jovens mensagens significativas é hoje imensamente inferior à de um qualquer influenciador.
A pandemia de Covid-19 colocou-nos diante dos olhos as consequências desta crise educativa, exasperando as tensões de relações nas quais o grande ausente era, desde há muito, o diálogo, condição imprescindível para educar.
Impossível, numa relação apressada de convivência, como a que muitas vezes caracterizava a vida familiar antes do Covid; supérfluo na escola para uma mera transmissão de conhecimentos, o diálogo, nesta emergência, revelou-se indispensável precisamente na exasperação da sua ausência.
Sem diálogo, a relação pais-filhos liofiliza-se num repertório de frases feitas, e os jovens, seqüestrados em casa e deixados sós, procuram no celular ou no computador os possíveis interlocutores, com o risco de encontrar pessoas erradas. Sem diálogo, torna-se problemática uma relação escolar puramente virtual, que deveria ter a sua linfa numa comunicação humana, e que, em vez disso, continua a fundar-se em lições inspiradas no velho esquema unidirecional.
É preciso repensar o papel educativo e a dar-se conta que precisamente eles e não os influenciadores devem ser os mestres dos seus filhos e dos seus alunos, instaurando com eles uma comunicação digna deste nome.
Se queremos que as novas gerações não sejam alimentadas pelos influenciadores na feira das vaidades da sociedade massificada, é preciso que os adultos, redescubram o rosto de cada um e aprendam a escutar seus problemas, as suas angústias, os seus desejos. Muitas famílias ficaram na lógica perversa do sim e do não.
Também a escola não pode iludir-se que a digitalização resolva, por si, os problemas. É o uso que as pessoas fazem destes meios que os tornam, ou não, humanos. E os meios tecnológicos mais aperfeiçoados podem favorecer, não substituir, o ambiente de escuta recíproca que permite à relação educativa instaurar-se e desenvolver-se. Para mudar estruturas devemos começar a mudar as pessoas. Fundamental educar para os valores.
10.12.2021 Prof. Dr. José Pereira da Silva








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  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA

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