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Pato ?.....mas nem tanto!

FALANDO SÉRIO

Cheguei no restaurante do Fritz e encontrei uma discussão das maiores. Estavam lá o Pereira, o Fritz e mais dois clientes para mim desconhecidos, mas pelo sotaque eram de descendência tedesca (alemã, se é que você não sabe).
O assunto era o pato. Na realidade, o alemão e o Pereira mais prestavam atenção e questionavam sobre o assunto, e os desconhecidos iam dando explicações, entre uma golada e outra da “birra”, que enfeitava e dava sabor à reunião daquele final de tarde.
- Ô Chisteca chega aqui, e vem aprrenderr, uma veiz, tudo sobrre o pato.
- Sobre o pato, Fritz?
- É isto mesmo, pato, o marrida da pata!
E lá fui eu me embrenhar na conversa, em que me apresentaram os desconhecidos. Eram dois colonos, amigos do Fritz, que moravam na região do Rio da Prata, localidade da residência do alemão e que desenvolviam uma criação desta desengonçada criatura.
Sem dominar o assunto eu quis entender por que “pato”, e não o popular marreco que é típica sua criação por esta região?
Imediatamente comecei a receber uma profunda aula das características deste azarado “primo do Gastão”.
Em primeiro lugar o preço do quilo do pato é mais caro, pois seu tempo de choco e engorda é longo. Ele é mais carnudo e macio, evitando características de ossudo que estamos acostumados.
Outra característica anunciada pelos criadores, e muito ressaltada pelos “experts” é o sabor próprio de carne vermelha de ave, com aspectos e lembranças da vida selvagem de seus antepassados, mas sem os excessos decorrentes da carne de caça (cuidado com o Ibama).
A esta altura da conversa eu já estava meio convencido que um jantar com pato no cardápio era realmente uma boa e precisava ser experimentada.
A conversa continuava interessante tanto pelo que o exótico assunto imprimia, quanto pelas “birras” que iam sendo destampadas.
Foi quando um dos novos amigos comentou sem muito entusiasmo, que o grande desafio era o ponto do abate, ao que me tornei novamente curioso, pois não entendia como isto poderia ser tão problemático.
Novamente uma aula, mas muito mais surpreendente, pois conforme ele nos ensinou o pato engorda até entrar na puberdade, e quando começa a “ciscar” a pata, tem que ir para o abate. Segundo o nosso amigo daí em diante vai emagrecer e tal momento exige atenção e presença no cotidiano da criação.
Continuei curioso e sugeri o óbvio, ou seja, preparar machos e fêmeas, ao que recebi uma sonora gargalhada de admiração e o seguinte comentário: - O quê? Com o pato? Mas o homem tá maluco?
Agora já assustado sem saber qual a besteira que eu havia dito, ouvi: - Pato não tem jeito, pato quer pata o tempo todo, e tem mais, não é uma somente, são muitas patas, pois se ficar com poucas ou sem, ele vai pra cima de quem estiver disponível, e pode ser o amigo, o irmão ou até o ganso descuidado.
A esta altura, já literalmente perplexo perguntei para ele se esta energia toda era transmitida pela refeição elaborada com pato, e para minha surpresa ouvi que isto ele não sabia.
Insisti, perguntando se como criador ele não comia ou não gostava de carne de pato, ao que meio envergonhado, respondeu: - Adoro pato, mas a patroa que é quem cozinha, somente muito de vez em quando deixa eu comer pato, pois ela diz que não tem coragem de correr o risco da “força” passar para mim.
E naquela noite fui embora admirado e curioso para saber se a energia surpreendente do pato é transmissível.

Joinville, 22 de outubro de 2020.

Henrique Chiste Neto







  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

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