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Pessoas e cidades

FALANDO SÉRIO
As pessoas e as cidades tecem paralelos bem interessantes.
As cidades são fascinantes pelas peculiaridades que apresentam. Suas ruas estreitas, calçadas com postes no meio atrapalhando o ir e vir das pessoas, jardins cuidados, jardins descuidados, e assim por diante.
De repente você está muito faceiro caminhado pela cidade, apreciando as vitrines, buscando um amigo também transeunte e de repente torce o pé em um buraco na calçada, levando-o a um desequilíbrio repentino ficando o corpo a cambalear e ver tudo sair do lugar.
Pouco provável que isto vá acontecer justo com você, mas existe a possibilidade, vai dizer que não?
Assim são também as pessoas interessantes: têm falhas. Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade limpa, sem buracos nas ruas e calçadas onde tudo funciona e você quase morre de tédio.
Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, uns olhos com personalidade, um vinco na testa que as caracterize e, até um certo cacoete que as identifique.
Pessoas, como cidades, precisam ser limpas, mas não a ponto de não possuírem máculas. É preciso suar na hora do cansaço, é preciso ter um cheiro próprio, cada qual com seu perfume, uma camiseta velha para dormir, uma bermuda feita de jeans, cortada e quase transparente de tanto que foi usada. Um batom que escapou dos lábios, depois de um beijo borrado.
Pessoas, como cidades, tem que funcionar, mas não podem ser previsíveis. De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser insensatas, ligeiramente passionais, demonstrar um certo desatino, ir contra os prognósticos, cometer erros de julgamento e pedir desculpas depois, pedir desculpas sempre, pra poder ter crédito e errar outra vez.
Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos agradáveis, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar. E os que as deixaram por algum motivo, sinta a saudade comprometedora dos amantes.
Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar, nunca devem deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, tem rachaduras internas, portanto podem surpreender.
Falhas! Agradeça as suas, que é o que lhe torna humano. E isto me fascina.

Joinville, 06 de outubro de 2020.
Henrique Chiste Neto








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  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

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