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Falando Sério

DELÍCIAS
Diz um certo ditado que: “Leis e lingüiça ninguém deve saber como são feitas”.
Há, dizem, sempre muita sujeira, até ficarem prontas. Mas, não são apenas as duas.
Se passarmos a observar como se fazem certas comidas, antes de se nos apresentarem à mesa, passar-se-ia a fazer mais e maiores regimes.
Aqui em Joinville tinha um boteco famoso que servia um bolinho (come-se muito bolinho de carne por aqui) apelidado de “Jesus me chama”, e era famoso pelo bolinho.
Certo sorveteiro da cidade, isto antigamente quando existiam sorveterias, que tinha um enorme antraz (bonito nome que significa tumor inflamatório do tecido celular) na nuca, de onde sempre escorria um líquido purulento.
Dizia-se à boca pequena – o homem era muito estimado, que o excelente sabor das bolotas glaciais era temperado com o chorume (ui!).
Outro preparava famosas empadas (também se come muita empada por aqui, são de massa folhada) vestindo uma camiseta de remador, as famosas regatas, sem mangas. Nunca ninguém reclamou, nem foi visitado pela vigilância sanitária, porém, foi por demais visto com o suor a lhe escorrer pelos apêndices filamentosos (vulgo: pêlo – não sei porque, mas acho esta palavra tão feia) do sovaco (outra palavrinha horrorosa), a pingar na massa que preparava.
Aí mesmo em Taubaté tivemos casos famosos. Uma padaria, e era famosa, ali pelas bandas da pracinha do asilo, perto do convento, certa vez, num domingo, ofereceu aos seus fregueses um delicioso pão com massa recheada de lingüiça. Foi um sucesso. Dia seguinte, toda a freguesia reclamava pelo apetitoso derivado do trigo que tinham levado para o sagrado café domingueiro.
Foi muito difícil para o proprietário explicar que o padeiro, dono da cobiçada receita, tinha sido despedido. Fato é que realmente foi.
Mais tarde ficou-se sabendo que o famigerado gostava mesmo era de uma canjibrina e, naquele sábado á noite, viera trabalhar numa baita água, e lá pelas tantas da madrugada, durante a sova da massa, vomitou todo o bolo estomacal que misturou com a sagrada massa do pão dominical. Não havendo mais tempo para o preparo de nova batelada, ajeitou como deu, e mandou pra dentro do forno.
O resultado foi o delicioso pão com lingüiça do Miranda. Êpa! Denunciei...
Só mais um detalhe: dizem que um pouco de cachaça deixa a massa bem macia.
Já o famoso “Arroz doce” do Hélio Morotti não ficamos sabendo o segredo, afinal, ele não gostava de comentar sobre o assunto.
Perceberam?

Joinville, 17 de agosto de 2020.

Henrique Chiste Neto







  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO