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O pulo do Zé Paulo de Andrade

Colega de todas as manhãs do meu pai de 1977 a 1985, de 2004 a 2012. Companheiro dos ouvintes por quase 60 anos de Rádio Bandeirantes, desde fevereiro de 1963. Um dos meus guias e conselheiros nos meus 33 anos de jornalismo, e nos 43 anos que eu o conheço.
Eu tinha 11 anos quando o José Paulo de Andrade me cumprimentou nos estúdios de rádio que ele dividiria com meu pai por 16 anos. Eu tinha 37 anos quando eu passei a todas as segundas-feiras dividir o microfone da Rádio Bandeirantes por alguns minutos. Em 2006 e 2010 eram todas as manhãs na Alemanha e na África do Sul.

Nesses dias de conversas radiofônicas com meu pai, ele e Salomão Esper, ele não me chamava de "palmeirense" como ele primeiro me chamou em 1977. E eu fiquei muito feliz, como sempre. Ele me tratava com muito carinho e respeito como mais um dos colegas que eram fãs e muitos viraram amigos desse gigante do radiojornalismo.
Não era alguém com quem eu tinha as mesmas ideias e ideologia e afinidades. Mas alguém que, como eu, não vive sem rádio.
Só que o rádio não conseguirá viver tão bem sem o Zé que nos deixa levado pelo vírus da morte e da igorância que ele sempre combateu.

Lembro de, pouco antes de sair da Bandeirantes para a Jovem Pan onde trabalho desde 2015, ter visto o Zé Paulo num canto logo cedo na rádio que ele abria todas as manhãs com o "Pulo do Gato".


A imagem era do Zé lendo jornais como sempre. Lendo como sempre deveria todo mundo aprender. Ele parado. Parecia dormindo. Mas era só atenção.

Confesso que na hora lembrei do meu pai que tinha partido três anos antes. E imaginei que seria como o Zé Paulo gostaria de ter partido. Na redação. No estúdio. No ar.

Ali, na solidão da madrugada, ajudando por anos e todos os dias a mitigar um pouco a solidão do ouvinte.


Como o rádio sempre fez. Como poucos fizeram por tanto tempo e tão bem como ele.

Zé. nosso querido Zé Paulo, obrigado por todos os toques que você me deu na carreira e na vida. Por todas as palavras de apoio a mim e a quem precisava ouvir. Mesmo que não tenham dado bola.

E, mais ainda, pela última hashtag que você me "mandou" quando nos encontramos no estúdio.

Ela não será possível. .(Por Mauro Beting 17 Julho)






  • Fontes: Mauro Beting 17 Julho

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