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O PASSISTA DAMIÃO

Como você não sabe, no tempo do urinol sob a cama, um dos costumes nesta terra que consagrou Dito Martelo era todas as manhãs uma carrocinha puxada por um burro de quatro patas, percorrer as ruas centrais entregando o leite.
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Enquanto o barulho das patas no animal ecoava no calçamento, em torno da carrocinha um garoto serelepe suava trabalhando.
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Seu nome era Damião Nascimento e um dos seus trabalhos era colocar nas casas o litro âmbar o Leite Paulista que a carrocinha transportava.
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Isso durante todo o ano, pois quando chegava o Carnaval o garoto Damião se transformava na mais espetacular passista da Escola de Samba Império do Morro.
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Todo o Morro sabia que Damião era casado com Cláudio, também conhecido como Neguinho da Madame, que com sua voz rouca percorria o comércio nos meses antes do Carnaval com o famoso Livro de Ouro para "ajudar nas finanças da Escola".
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De vez em quando o Livro de Ouro patrocinava umas cervejas no boteco do Morro, pois com o calor a garganta secava rápido.
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Na batida do samba Cláudio acabour perdendo Damião para o mestre sala Chupeta, o mesmo que em um desfile na Avenida 9 de Julho, por pouco não arremessa a Porta Bandeira sobre as autoridades que estavam no palanque.
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Um dia Damião subia o Morro em direção à sua casa, quando após o Viaduto da Imaculada um motorista descuidado o arremessou como uma bola de boliche.
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E assim acabou o passista Damião, como também acabou o Carnaval de rua de Taubaté.
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A foto que você está vendo é uma gentileza da professora Ida Barros, com o menino Damião que era o seu companheiro na Rua Dr. Pedro Costa quando ela tinha dois aninhos.






  • Fontes: JOSÉ DINIZ JUNIOR