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DIA DO GOLEIRO

FALANDO SÉRIO
Fico pasmo como os comentaristas de futebol, alguns até bons, são ignorantes em termos de julgar a atuação de um goleiro. Limitam-se a dizer que daria para pegar uma bola indefensável, que pegou o goleiro no contrapé ou desviou em alguém e exclamam em altos berros “Graaannnde defesa” quando o goleiro espalma uma bola fácil que seria defendida sem estardalhaço se ele estivesse bem colocado.
Hoje deu me na telha dedicar estas linhas para expressar um sentimento sobre um assunto de minha predileção: - o goleiro, afinal, ontem dia 28 de abril, foi o seu dia.
Solitário, como requer a sina de todo “guarda valas”, a posição de goleiro é impar, até porque é o único que na regra do jogo tem concessões e restrições diferenciadas dos outros 10 jogadores.
Mas, o que leva um menino a querer jogar no gol? Talvez a resposta seja diversa, como: reflexo de um ídolo, falta de habilidade para jogar na linha, ou outra razão que a própria razão desconheça. Fico com a última das opções.
Quando o futebol começou a entrar em minha vida, tinha cerca de 10 anos de idade. Morando na fábrica de caramelos Embaré, habitualmente pulava o muro do campo da CTI para assistir os jogos de futebol. Lembro-me do Ubatubano, Sabatino, Carvoeiro e outros que deram me, sem saber, as primeiras lições da arte de “ser goleiro”.
Nas peladas do “Lavador de Areia”, tive minhas primeiras experiências como “guardador de redes”. E olha que jogar no gol de “pelada” é o fim da picada. Mas, era realmente do que eu gostava porque, ali sozinho, ficava imaginando e transformando sonhos em realidades irreais. Ali eu já “filosofava”.
Com 8 ou 9 anos de idade, imaginava jogar no gol do Diocesano, colégio que estudava. Porém, o anseio que ao mesmo tempo era grande, esbarrava na disputa com o titular. Aliás, só era o goleiro titular porque era mais velho e já “crescidinho” para jogar no meio dos menores. Tatão era seu nome; o mesmo que na época já “enterrava” muitos pontas direitas adversários, jogando de lateral pelo inesquecível E.C.Quiririm.
Como estudar não era seu forte, desistiu no meio do ano, deixando “Seu” Dito sem goleiro para o time do colégio.
Sem pestanejar aceitei o convite. Saí da lateral e vesti pela primeira vez a camisa preta de goleiro, para nunca mais largar. Apaixonei pela posição e investi nela.
Ser goleiro é ser solitário, é ter que se virar sozinho, é não poder errar.
Fito Neves certa vez definiu o bom goleiro: “é aquele que até pode falhar, mas quando o time precisa, ele realmente aparece”.
O goleiro pratica a antítese do objetivo maior de um jogo de futebol que é fazer gol. Ser goleiro é de uma enlevação tão grande que só pode senti-la os predestinados que tiveram o sabor de aniquilar um adversário com defesas impossíveis.
Em nossa várzea, seleiro de grandes craques, conheço alguns. Dos que enumerei acima, Sabatino foi com quem tive a oportunidade de jogar. Nogali um dos mais perfeitos, sobressaia-se por seu grande arrojo e coragem, além de enorme espírito esportivo e de coleguismo. Barrela era um incômodo para os atacantes, quando “fechava” o gol lembrava muito ao eterno Castilho da Seleção Brasileira com sua “leiteria”. Pompeia em dois tempos marcou época no salão, jogando pelo TCC e, no campo, defendendo o Farrapos. Geia e Jefferson foram outros que, jogando no gol, tiveram a supremacia de marcar os campos de nossa várzea. Geia ainda defendeu o E.C. Taubaté. Enfim, Taubaté sempre foi a terra de grandes arqueiros.
Até o “nosso” Renatinho Dentinho, hoje grande cantador, jogou no gol. Sabiam que ele chegou a disputar posição com o “grande” Geia? Pois esta ele me contou uma vez quando nos encontramos aqui em Joinville.
No futebol de salão (assim se chamava antigamente) o maior foi o Reinaldinho, impecável, perfeito, apenas isto.
Dos profissionais que marcaram época em nossa cidade lembro-me de Rossi e do magnífico Henrique, elástico e elegante, como sói se apresentar o verdadeiro goleiro.
Perdoem-me os demais, porém, os mencionados foram os que marcaram a minha época no futebol varzeano de Taubaté.
Goleiro é aquele que tem que viver o momento, como no amor.
(NOTA DA REDAÇÃO: A qualidade da foto, tirada a 50 anos, não nos permite uma melhor visualização)

Joinville, 28 de abril de 2020.
Henrique Chiste Neto







  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

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