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LOBATO X GETÚLIO

Monteiro Lobato começou a batalhar pelo petróleo em 1931. No ano seguinte, com 50 anos, seu patriotismo fala mais alto e ele não pode abandonar a luta.
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Queira sentar-se que lá vem história.
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Em 1940 ele escreveu uma carta ao presidente Getúlio Vargas. E foi preso preventivamente. Motivo: "Tendo requerido passaporte, pretende fugir para a Argentina".
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Lobato ficou três dias incomunicável e dez meses após, foi submetido a julgamento.
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A notícia de sua condenação a seis meses, caiu como uma bomba nos meios intelectuais e políticos, pois ninguém esperava aquela surpresa.
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As provas de solidariedade chegaram de todos os lados, com oferecimentos de toda sorte. "Se precisasse de dinheiro, era só dispor". "A admiração por um tribunal político em nada diminui a admiração que todo brasileiro lhe devota".
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Trabalhando, interferindo em favor de outros presos junto à juízes amigos, repartindo com eles tudo que lhe era enviado, passou três meses na prisão. Apesar de não transparecer aos amigos que o visitavam, a cadeia abalou o seu ânimo e talvez tenha mesmo apressado a sua morte.
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Finalmente todos os esforços dos amigos conseguem, após três meses de cadeia, que ele seja indultado pelo presidente Getúlio Vargas. Num fim de tarde, começo de noite, vão tirar Lobato do presídio, quase a força.
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Surpresa: Lobato não quer sair do xadrez. "Sinto muito, é tarde, minha família não me espera, agradeço a gentileza", diz ao diretor do presídio.
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Deitado de costas, mãos cruzadas atrás da cabeça, Lobato finge-se de morto: "Sou obrigado vou vesti-lo com a ajuda dos carcereiros e entrega-lo à sua família que o está esperando. Eu lhes telefonei que viessem", diz o diretor.
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Lobato pulou da cama de ceroula. "A noite está fria, não era para aborrecer minha família. Eu vou, mas com uma condição. Telefone-lhes de novo e diga que me esperem em casa".
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O povo estava de olho na política. São Paulo interessava-se pela sua liberdade. Enquanto ele se arrumava a contragosto e emburrado, as autoridades justificavam-se dizendo da grande admiração por seus livros.
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Assim era Lobato. Gênio difícil, não queria aceitar o indulto, não precisava de favores, nem do presidente.
Numa noite fria ele voltou ao seio familiar e ao carinho dos amigos.
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No dia 4 de Julho de 1948 o grande escritor deixava este mundo.
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FONTE DE REFERÊNCIA: "As diversas faces de Monteiro Lobato" - José Antonio Pereira Ribeiro - 1985 - De minha biblioteca particular..






  • Fontes: JOSÉ DINIZ JUNIOR