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O LARANJA

FALANDO SÉRIO
É óbvio que nesta altura da vida do País, todos sabem o verdadeiro significado do que é ser “laranja”. Pensando bem, creio que ser laranja tem lá suas vantagens pois, parece que o laranja sempre se sai bem na vida, com raras exceções. Laranja é aquele que “representa” grandes personalidades com poder ou dinheiro, ou, na maioria das vezes, ambos, pois, quase sempre caminham juntos.
Representa um “poderoso” na forma de fazer, guardar, repassar, esquentar dinheiro, seja, caixa dois, depósitos ou envio de verbas escusas, comissões, taxas, lavagem de dinheiro, caixinhas especiais para projetos mais especiais ainda, firmas fantasmas com contas bancárias polpudas, empresa em paraísos fiscais ou toda necessidade que o dono do poder imagine, crie ou descubra com o também poderoso jeitinho brasileiro. Que não existia se não houvesse impunidade.
Aqui um pequeno parêntese. Estávamos indo tão bem com o advento da “Lava Jato”. Chegamos a nos gabar: “agora vai”. Ledo engano, o “laranjal” apenas ficou mais requintado e o requinte foi “lustrado” por uma “entidade” de onze capas pretas que se autodefinem como “Soberanos Todos Poderosos”.
O Brasil é assim. As regras e a lei, no submundo funcionam. Neste reino, basta a palavra (Êpa! No primeiro momento, bem entendido). Quanto mais levantarmos tapetes mais descobrimos que, embora distantes da máfia, que no Brasil não deu certo, também temos o crime organizado. Por sinal, requintado, tecnológico e de primeiro mundo.
O laranja (parece que é sempre no masculino) é aquela figura sombria, oculta, escorregadia e dissimulada, sem sobrenome ou “pedigree”, berço ou tradição que deveria ser apagada, sem nunca aparecer ou se destacar. O que em tempo de crise também nem sempre acontece, haja vista, alguns laranjas nas primeiras páginas dos jornais.
O laranja faz o estilo família, ainda que leve uma vida dupla, afetiva ou econômica. Não tem nada a perder, por isso joga alto, sem receio. Até o dia em que descobre que também tem poder e o chefe reluta em pagar a quantia ambicionada. Aí sim, primeira página. Mas nada grave para quem tem esquemas montados para situações de conflito e perigo iminente, afinal o STP – Soberanos Todos Poderosos estão sempre de plantão.
Os dólares já estão longe, o passaporte com o visto em dia, a casa, a conta bancária, o cartão de crédito, tudo organizado. É só bater em retirada, após ler os jornais que descobriram seus rastros.
Antigamente o laranja era chamado de “eminência parda”, dependendo do “status” em que se encontravam.
Hoje, complicou um tanto, pois nem nos laranjas se pode confiar mais. Mas, em geral ostentam sinais de riqueza, vivem com muito conforto, luxo apenas em viagens ou quando estão de férias distantes da “terrinha”.
Laranjas tem função tão múltipla, que nenhuma empresa consegue arranjar profissional similar no mercado. Aluga avião, iate, abre conta em qualquer lugar do mundo, sabe receber e mandar dinheiro, pajeia mulher e filho do chefe, cuida das festas, casas de praia, do sítio... Enfim, laranja é aquele que tem uma capacidade insuperável de resolver todos os problemas do chefe.
Agora o fundamental: para existir o laranja é preciso a outra parte. Afinal, o laranja é contratado mesmo que em condições especiais. Lembro de um conhecido que ficava assustadíssimo ao se referir do lado escuro de certas pessoas que “brilham” por aí. Sabemos que não existe corrupto sem corruptor.
Este é o lado triste e melancólico deste país que arrefece a coragem, o ânimo e a ousadia daqueles que querem realizar, produzir, gerar empregos e de uma ou de outra forma, contribuir com o desenvolvimento da Nação.
E você? Onde é que pensa que está nesta história toda? Já parou para pensar?

Joinville, 21 de abril de 2020.

Henrique Chiste Neto








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