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A morte não é aniquilação

A morte é transformada por Cristo: Deus criou a vida e a mantém na eternidade.

Há uma frase de Cícero, filósofo romano, que diz assim: “ Não existe nesta vida coisa mais certa do que a morte e coisa mais incerta do que a hora da morte!”. Morte, um fenômeno da vida que atinge a todos, crianças, velhos, ricos, pobres, homens e mulheres, crentes e ateus, ninguém escapa ao seu domínio. Segundo Santo Agostinho, ao nascer iniciamos nossa caminhada para a morte.
“É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto” (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n.18).
No entanto, para a fé cristã a morte não anula o projeto de amor do Criador, mas é vista à luz da vida, que em Deus nunca se acaba. É o que chamamos vida eterna. Cremos na ressurreição!
O olhar do cristão volta-se-à sempre, se quiser ser consequente, para Jesus Cristo. Que sentido Jesus deu à morte e, de maneira especial, à sua própria morte? ( Jo 12, 24-25).
Olhando para Jesus, o cristão, na sua vida, em cada gesto de amor-doação vai também dando sentido ao sem -sentido, às pequenas mortes, como a dor, o sofrimento, a incompreensão. Nesse sentido, a morte é integrada à vida. Isso é o que chamamos de ritmo pascal da vida cristã: uma caminhada feita de morte e ressurreição, em cujo desenrolar de acontecimentos se descobrem um sentido e uma direção mais plenos.
Terminando o curso desta vida terrena, para a qual não há retorno, pois “os homens devem morrer uma só vez” (Hb 9, 27), tendo permanecido fiel até o fim, o ser humano passa a participar em Cristo da vida que nunca se acaba.
Nesse sentido, a morte é concebida como passagem, como um nascimento definitivo. O fundamento da fé na vida eterna, é a ressurreição de Jesus Cristo. Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11, 25).
É a totalidade do ser humano, purificado, integrado e liberto pelo amor e para o amor que entra numa nova dimensão da graça de Deus. Ressuscitar significa entrar na dimensão divina.
Para explicar o mistério da morte, o Novo Testamento usa a imagem do parto. O dia da morte é o dia em que termina a gestação da nova criatura (Gl 6,15). É o dia do nascimento do “homem novo” (Ef 4, 24). É momento de fé e esperança. Lemos no livro da sabedoria: “Estão as almas dos justos nas mãos de Deus, e não os toca tormento algum” (Sb 3, 1-3). “Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor”, exclama São Paulo (Rm 14,8).
Com a morte cessam as capacidades humanas e entram as forças divinas. A ação divina é a ressurreição. Crer na ressurreição é encher-se de esperanças, pois o Deus que criou a vida e a mantém na eternidade. Para a morte existe solução, sendo que a ressurreição é o presente de Deus a quem ele chama para a vida eterna.
01.11.2024 Prof. Dr. José Pereira da Silva








  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA