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Descentramento fragmentário e subjetividades frágeis.

Temos na contemporaneidade uma cultura da aceleração e da insaciabilidade. O que traz muitos efeitos psíquicos para as pessoas.
Vive-se um descentramento fragmentário ao qual a pessoa é submetida no mundo contemporâneo. É uma descentralização delirante do real a que a aceleração de imagens imposta pela mídia conduz o que claudica o sentido de interioridade que alimenta a experiência do cotidiano e lhe dá sentido.
Uma desrealização do real nas dimensões tanto identitária, quanto da realidade da representação. A pessoa vai se distanciando de si mesma. A imagem vai ocupando o lugar do pensamento, e o mundo lentamente vai se convertendo e se reduzindo à vitrine do eu.
O mundo em que vivemos passa ser aquele construído pela imagem e pela representação. Temos a tirania da aparência pura e simples.
Diante de tal realidade atual somos convidados a reflexão serena, à pausa interrogante, ao cuidado atento e à crítica madura. Tudo isso para num esforço ir reencontrando um modo sempre mais humano de existir.
Alguns efeitos psíquicos de tal situação de fragmentação é a dissolução dos limites, aceleração, subjetividade sempre mais frágil e um narcisismo exagerado. É preciso compreender que as pessoas estão envolvidas numa lógica que nem sempre percebem.
O narcisismo exagerado se revela de muitas formas entre as quais nos transtornos alimentares, tais como bulimia e anorexia. Assistimos a um aumento desse quadro no século XXI. As pessoas se verem na obrigação de seguir um determinado modelo de perfeição.
A contemporaneidade devolve uma cultura que coloca limites ao sujeito que o impede de superar essa fase. Aí temos a valorização da imagem e a exposição constante que reforçam o narcisismo.
Existe uma cultura que estimula e reforça o exibicionismo, a autopromoção , performance e a rivalidade. No psiquismo estimula a criança exibida do passado humano.
Tal situação faz nascer uma geração infelizmente de adultos infantilizados que são irritáveis, impacientes, tirânicos e que demonstram pouca resistência ás frustrações.
Vivemos numa sociedade que incentiva e promove o consumismo e que muitas vezes pode levar ao narcisismo pois exacerba o narcisismo infantil. Como lembrava Sigmund Freud ( 1856-1939)o narcisismo que leva ao encantamento da própria imagem.
Na lógica da sociedade atual a própria pessoa se transforma em mercadoria. A pessoa tem a preocupação consciente ou inconsciente de ser vendável sob vários pontos de vista: profissional ou amoroso. É a lógica do marketing. Essa lógica penetra a vida subjetiva. Aos poucos o mais importante não é o que se é, mas como se apresenta, como se é visto. A lógica do ter sobre o ser.
Essa lógica que penetra a cultura e atinge muitas esperas da vida humana. Hoje percebe-se que o entretenimento vem ocupando um lugar central em detrimento à reflexão e ao trabalho. Atividades que antes tinham começo, meio e fim tornaram-se contínuas.
Essa lógica cultural tem características de insaciabilidade, não possui limites, tudo se tornou frenético. Agora existe a promessa de um sempre mais que não se realiza. Os lugares de sentido mudaram. O sentido muitas vezes se tornou fluído demais num mundo frenético. Percebe-se uma perda de sentido identitário: quem sou? Tenho sentido? A perda do sentido lesa o ser humano.
04.04.2025 Prof. Dr. José Pereira da Silva











  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA