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A sociedade da insatisfação

Apesar dos avanços tecnológicos e das facilidades que daí derivam o coração humano é insatisfeito. Numa cultura do consumismo e do narcisismo que apresenta mil ofertas, o coração humano apresenta-se insatisfeito e em muitos casos vazio. Numa sociedade do ter o ser se ressente. Estar confortável não significa estar seguro. Muita dor interior está na insatisfação e no desejo não satisfeito.
Essa insatisfação e consequente vazio existencial apresenta-se de diversas formas: busca incessante pelo sucesso, fama, poder, riqueza etc. Porém a busca dos prazeres efêmeros no que tudo indica não elimina a insatisfação e nem preenche o vazio. A insatisfação aparece como um mal-estar crônico. Assiste-se o descontentamento, a insatisfação e a expectativa frustrada.
Após cada conquista do que se almejava a insatisfação persiste, o desejo por mais e mais se faz presente. No fundo do coração humano vêm a interrogação: Quais são os desejos verdadeiramente essenciais?
Não se pode ter tudo e ser tudo, temos uma incompletude, estamos em estado de maturação. Nossa sociedade incute nas pessoas uma imagem de triunfo, sucesso e plenitude que muitas vezes não corresponde a realidade profunda. O ser humano é estruturalmente insatisfeito pois o objeto de desejo e idealizado nunca é encontrado. A insatisfação pode ter um impacto profundo na saúde metal de uma pessoa. Quando fica crônica leva a pessoa a ficar presa em suas circunstâncias.
O encontro com esses questionamentos profundos é um meio de acesso a uma reinterpretação da nossa identidade e liberdade. São questões muitas vezes indesejadas e é raro ás pessoas terem tempo e disposição e abertura para escutarem suas insatisfações e a origem do vazio que as perturbam.
Essa insatisfação é muitas vezes a raiz de muitos conflitos internos e externos. Onde as pessoas tem procurado preencher seu coração e vida. Entender isso é ter um novo código de interpretação da realidade. Busca-se satisfação em lugares que não podem trazer satisfação e sim ampliam a insatisfação. Cria-se um ciclo que aliena e escraviza o coração humano. O desejo, por si só, não é algo ruim. Pois o ser humano tem a capacidade desejar e buscar. Essa insatisfação é força motriz do aparelho psíquico. A questão é onde e em que investimos o desejo. O coração humano precisa sempre se reordenado. A insatisfação constante fragmenta o ser humano.
Vivemos numa sociedade em que muitas pessoas fogem de si mesmas e de seus questionamentos mais profundos. A insatisfação é uma zona obscura, um vazio que traz angústia em que as pessoas procuram preencher com sons e ruídos, com muitas atividades e compromissos. Vêm a solidão, a desorientação, a espera, a inconstância e a insônia.
A inquietação e a insatisfação perante o mundo como é e perante as respostas por nós adquirida em relação a todas as questões da existência. Somos chamados a fugir dos pensamentos habituais e encarar a realidade nossa e a dos outros. Quando vivemos algo que, ainda que seja uma insatisfação ou vazio, é algo que nos diz respeito e é uma mensagem dirigida à existência. É preciso um olhar atento. A insatisfação e o vazio que daí pode surgir deve ser enfrentado e não preenchido o mais depressa possível e de qualquer maneira. Deve ser vivido como uma busca pelo sentido da existência. Deve nos conectar com nossa fonte mais profunda.
Devemos aproveitar o tempo para nos reencontrarmos e o inesperado para reconhecer, mudar e aprender. A vida cresce com os seus processos de amadurecimento. A insatisfação e o vazio que muitos vivem deve nos interpelar. Como diz o Cardeal José Tolentino Mendonça: “Há dimensões da nossa vida que só são silenciosas porque não nos deixamos interrogar por elas”. O coração humano sempre busca um norte. Buscar o sentido e a satisfação em lugares errados traz frustração, destruição de sonhos e expectativas. É preciso cultivar a autenticidade. Deixar o engano das ilusões.
A satisfação e o sentido da existência estão mais além, no infinito e nos vastos horizontes da alma.
24.10.2025 Prof. Dr. José Pereira da Silva






  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA

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